sábado, 2 de novembro de 2013

A cola do mexilhão colou meu estômago?

Mesmo depois do sucesso do Crowdfunding do mexilhão dourado, e com o trabalho em andamento no laboratório, continuo recebendo e-mails com perguntas e dúvidas a respeito da invasão de L. fortunei (esse é o mexilhão dourado!) na América do Sul. Nas últimas semanas recebi dois e-mais interessantes, que resolvi compartilhar aqui no blog, porque podem ser dúvidas que outras pessoas também tenham. Peço desculpas aos autores das questões pela demora, mas em virtude de alguns deadlines e principalmente por motivo de saúde, só consegui sentar no computador e parar pra responder nesse momento.

As primeiras questões: Minha maior duvida é, se ele veio da China, como lidaram com o problema por lá? (imagino que comeram todos, como fazem com tudo por lá). Por que o mexilhão dourado não é comestível?

Pois bem! A resposta para a primeira das perguntas é a seguinte: a grande questão é que na China ele não é um invasor! Lá ele é uma espécie nativa. As águas doces asiáticas são diferentes das sul-americanas, lá ele possui predadores naturais, e está em equilíbrio com o ecossistema. Por isso, na Ásia o mexilhão dourado não se reproduz exacerbadamente como ele faz aqui na América do Sul. 

Algumas vezes, quando esse ambiente natural muda, algumas espécies, mesmo nativas, podem sim predominar em detrimento de outras mesmo no seu local natural. Mas não é o caso para o mexilhão dourado na Ásia nesse momento.

E será que os chineses comeram todos os mexilhões dourados? Tenho que concordar com você que eles comem tudo por lá mesmo! Mas acredite: nem os chineses comem ele! Uau! E por que? Simplesmente porque ele tem um gosto muito ruim! Simples assim! Em algumas plantas já são bem conhecidas algumas estratégias contra a predação por insetos herbívoros, como a produção de tanino e fenol ou o aumento da quantidade de espinhos. Fica a questão: será que o ‘mau gosto’, a falta de sabor do mexilhão dourado é uma adaptação anti-predação e que, garante ainda mais o seu sucesso como invasor? Questão boa para se investigar!

A questão do segundo e-mail (não era bem uma questão, era mais um pedido INDIGNADO de resposta!): Sei o quanto você deve ser ocupada, mas não se esqueça de mim! Por favor!!! Aguardo ansiosamente pelas respostas que fiz há uns 3 e-mails atrás, sobre a substância que o mexilhão usa para se grudar nas superfícies! 

Leitor, desculpe a demora em responder você! Aqui está sua resposta: a substância que o mexilhão usar para se fixar chama-se bisso, e é secretada pela glândula do pé. Sim! Os mexilhões tem pé sim! Dê uma olhada no bisso secretado pelo mexilhão marinho Perna perna na figura abaixo.

                                                  Mexilhão P. perna fixo em substrato através do bisso. 
                                                                     Foto por Milla Zinkova


Essa estrutura, que é parecida com um cabelo muito resistente, é formada por um conjunto de cerca de 30 proteínas (que, quando sequenciadas, serão batizadas com o nome dos nossos colaboradores do Catarse!). Estudos mostram que o bisso pode ser até 30 vezes mais resistentes que os tendões humanos! E alguns pesquisadores já investigam a formação de suas placas adesivas na intenção de desenvolver uma cola para materiais molhados. Demais, né? Lembrando que esses estudos estão sendo feitos com bissos secretados por outros mexilhões, pois essa é uma característica comum a essa família, e não é exclusividade do mexilhão dourado.

Lembrando que apesar da falta de tempo, me sinto muito feliz em receber e-mails com dúvidas e questões interessantes, e pretendo responde-los sempre que possível. No mais, volto agora para o descanso seguido da missão de cumprir meus deadlines. Ontem fui a um médico que me diagnosticou com ‘gastrite nervosa’. Embora seja um diagnóstico duvidoso, ele pode ter seu sentido. Fui, como sempre, dar uma investigada na ‘doença’ e encontrei um dado interessante: a gastrite nervosa acomete preferencialmente mulheres jovens. 

Hum... Pausa para reflexão.

Não sei exatamente qual estatística o tal site usou para chegar a essa conclusão, mas deve ter sido a prevalência de casos em mulheres jovens em um determinado consultório médico, ou em vários. Fiquei pensando que de repente faz sentido, por dois motivos: primeiro porque nós mulheres somos umas histéricas-sentimentais-ansiosas! Não fiquem brabas comigo meninas, mas não tem jeito: nosso gênero ganha no quesito drama e na necessidade de prever todo o futuro em apenas dez minutos! Mas nesse momento, não achava que esse era o meu caso. Achava que estava mais para o segundo motivo: essa vida louca, maravilhosa, cheia de liberdade mas também cheia de responsabilidades que vivemos hoje no século XXI! Mas disso os homens jovens, apaixonados e comprometidos com seu futuro (e com o futuro do mundo) também sofrem! De qualquer forma, pra mim alguma lição ficou: não adianta adorar o trabalho mas comer miojo pra compensar as horas gastas ruminando na internet. É preciso aumentar o volume da eficiência, diminuir o da cobrança, aumentar a quantidade de horas a contemplar o teto e levar a vida leve. 

Referências:
- Aoyama & Labinas, 2012: Características estruturais das plantas contra a herbivoria por insetos.  http://www.conhecer.org.br/enciclop/2012b/ciencias%20agrarias/caracteristicas%20estruturais.pdf

3 comentários :

  1. Marcela, é bem legal essa dúvida que fica: "Será que o ‘mau gosto’, a falta de sabor do mexilhão dourado é uma adaptação anti-predação e que, garante ainda mais o seu sucesso como invasor?" porque em humanos se sabe que existe dentro de emoções e motivações um sistema apetitivo e outro defensivo, sendo um sistema sensorial relacionado com um sistema motor. Ao nascer crianças já conseguem discriminar substâncias prazerosas de amargas (possivelmente nocivas), visto que fora feito um experimento com recém nascidos que "nunca tinham se alimentado" (mecanismos motivacionais não aprendidos) com sucrose (substância doce) e quinino (substância amarga), nas quais queria se avaliar se os bebês tinham sensações como de agradabilidade ou aversão, o que gerou expressões faciais distintas, mas o fariam de forma inconsciente. Essas expressões seriam então ligadas a um mecanismo evolutivo de sobrevivência... principalmente a deleção da ingestão de coisas com sabor ''ruim'' que pudessem levar à óbito o organismo em questão e não propagação da espécie, o que no olhar do mexilhão seria uma ótima coisa... porque ele tendo um gosto ruim aos demais pode se propagar livremente em espaços onde não se tem predadores naturais e assim assegurar o seu sucesso como invasor. Pode até ser uma comparação absurda por mostrar extremos, mas fora algo que associei lembrando de aulas de neurofisiologia e que na minha cabeça tem total sentido. Melhoras!

    Att,

    sua IC.

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  2. Gastrite se cura facilmente em dois dias com remedios homeopaticos;Experimenta antes de condenar.

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